Monday, March 27, 2000 Base Físico-Territorial para Recursos Hídricos

Índice

PARTE I - PLANO GERAL

I.2. Disponibilidade Hídrica

I.2.1. Águas Superficiais

As correntes de águas que percorrem mais de um Estado ou fazem divisa entre eles, são de domínio federal, enquanto que os rios que possuem nascente e foz no mesmo Estado são estaduais. Por isso, nas bacias hidrográficas interestaduais, há necessidade de serem compartilhados os recursos hídricos disponíveis entre os Estados respeitadas as competências exclusivas da União quanto a geração hidrelétrica e navegação.

As normas internacionais propostas para a distribuição das disponibilidades hídricas entre unidades políticas vizinhas levam em consideração fatores como área de drenagem contida em cada unidade, elementos climáticos, utilizações estabelecidas no passado e no presente, necessidades econômicas e sociais, população, custo envolvidos e outros.

Constam da Tabela 2 áreas de drenagem das bacias hidrográficas que contêm território do Estado de São Paulo. A área do Estado é de 247.706 km 2 , o que representa 34% da área das bacias hidrográficas interestaduais. A vazão média de longo período estimada para as bacias interestaduais, é de 9.812 m 3 /s, enquanto que a do Estado de São Paulo é 3.140 m 3 /s, ou seja, 32% da vazão das bacias interestaduais.

A chuva média no Estado, conforme a Tabela 3, é de 10.805 m 3 /s, o que equivale a 1.375 mm/ano. O escoamento total é de 3.140 m 3 /s, igual a 100 bilhões de m 3 /ano. As perdas por evapotranspiração, calculadas por diferença entre a precipitação e a vazão, são de 7.665 m 3 /s ou 976 mm/ano. Somente 29% da precipitação pluviométrica, em média, transforma-se em escoamento.

O escoamento básico - a recarga renovável dos aqüíferos subterrâneos - é de 1.285 m 3 /s, que correspondem a 41 bilhões de m 3 /ano. A vazão mínima anual de sete dias consecutivos, com dez anos de período de retorno, é de 888 m 3 /s, cerca de 28% do escoamento total e 69% do escoamento básico.

Desde 1980, com o início do Estudo de Águas Subterrâneas da Região Administrativa 5 (Campinas), o DAEE desenvolve metodologia para estimar a disponibilidade hídrica das bacias hidrográficas do território paulista que não dispõem de dados hidrológicos observados. Fruto desta pesquisa, o estudo de regionalização hidrológica permite estimar as seguintes variáveis:

- vazão média de longo período;
- vazão mínima de duração variável de um a seis meses associada à probabilidade de ocorrência;
- curva de permanência de vazões;
- volume de armazenamento intra-anual necessário para atender dada demanda, sujeito a um risco conhecido;
- vazão mínima de sete dias associada à probabilidade de ocorrência.

O estudo baseia-se nos totais anuais precipitados em 444 postos pluviométricos, o que permite a elaboração da carta de isoietas médias anuais da Figura 4 , nas séries de descargas mensais observadas em 219 estações fluviométricas e nas séries históricas de vazões diárias de 88 postos fluviométricos.

Com base nesse estudo foram estimados para as bacias hidrográficas do Estado de São Paulo, os valores que constam da Tabela 4, ilustrados na Figura 5 .

O máximo potencial teoricamente possível de ser explorado é a vazão média de longo período, ou seja, o escoamento total. Entretanto por razões de ordem econômica, esse potencial se reduz na prática para cerca de 70% da vazão média. A vazão mínima mensal, com dez anos de período de retorno, é de 1.082 m 3 /s, cerca de 34% do escoamento total. A vazão mínima de sete dias consecutivos, com dez anos de período de retorno, é de 888 m 3 /s, ou seja, 28% do escoamento total e 82% da vazão mínima mensal, com dez anos de período de retorno. A vazão para 95% de permanência do tempo é de 1.263 m 3 /s, aproximadamente 40% do escoamento total.

A vazão de referência, que leva em conta a regularização assegurada por reservatórios, mais as contribuições mínimas das áreas das bacias não controladas, é estimada em 2.105 m 3 /s, no Estado, o que corresponde a 67% do escoamento total. Considerando-se as contribuições das bacias hidrográficas interestaduais, a vazão de referência é de 6.488 m 3 /s, equivalente a 66% do escoamento total.

Tabela 2. Áreas e vazões médias de longo período das bacias hidrográficas interestaduais

 

Código Unidade
Hidrográfica

Área de Drenagem(1)

(%)
Da Área
no
Estado(2)

Vazão (m3/s)

(%)
Da Vazão
no
Estado(5)

Total
(km2)

No
Estado
(km2)

Total(3)

No
Estado(4)

62

Mantiqueira

642

642

100

21

21

100

72

Sapucaí/Grande

10.242

9.077

89

164

145

88

Rio Grande em Usina Porto Colômbia

78.400

9.719

12

1.265

166

13

71

Alto Pardo/Mogi

18.006

11.291

63

278

168

60

73

Baixo Pardo/Mogi

12.180

12.180

100

194

194

100

74

Pardo/Grande

7.030

7.030

100

83

83

100

Rio Grande em Usina Marimbondo

116.700

40.220

34

1.808

611

34

82

Turvo/Grande

15.975

15.975

100

122

122

100

Rio Grande confluência com rio Paraná

144.190

56.195

39

2.187

733

34

81

São José dos Dourados

6.825

6.825

100

52

52

100

Rio Paraná a montante Rio Tietê

377.085

63.020

17

5.183

785

15

13

Alto Tietê

5.650

5.650

100

82

82

100

11

Piracicaba

12.120

11.020

91

165

141

85

12

Tietê/Sorocaba

14.850

14.850

100

135

135

100

23

Tietê/Jacaré

11.537

11.537

100

95

95

100

22

Tietê/Batalha

13.394

13.394

100

105

105

100

21

Baixo Tietê

15.347

15.347

100

111

111

100

Rio Paraná em Porto Independência

479.620

134.818

28

6.432

1.454

23

31

Aguapeí

13.204

13.204

100

97

97

100

Rio Paraná mont. Rib. Boa Esperança

517.069

148.022

29

6.881

1.551

23

32

Peixe/Santo Anastácio

14.740

14.740

100

112

112

100

Rio Paraná em Ilha dos Pacus

570.954

162.762

29

7.521

1.663

22

42

Alto Paranapanema

27.500

22.730

83

310

248

80

41

Baixo Paranapanema

79.030

2.654

33

925

243

26

Rio Paraná em Porto são José

677.484

211.746

31

8.770

2.154

25

61

Paraíba do Sul

14.396

14.396

100

215

215

100

51

Ribeira de Iguape/Litoral Sul

25.681

16.771

65

564

508

90

52

Baixada Santista

2.887

2.887

100

158

158

100

53

Litoral Norte

1.906

1.906

100

105

105

100

Vertente Marítima

30.474

21.564

71

827

771

93

Total

722.354

247.706

34

9.812

3.140

32

(1) Área de drenagem total da bacia hidrográfica no Estado de São Paulo e também das bacias hidrográficas interestaduais.
(2) Relação entre a área de drenagem no Estado de São Paulo e a área total; indica a percentagem da área dentro do Estado.
(3) Escoamento total estimado para os cursos de água estaduais e interestaduais, em termos de vazão média de longo período.
(4) Escoamento estimado para os cursos de águas estaduais, em termos de vazão média de longo período.
(5) Relação entre o escoamento no Estado e o escoamento no Estado e o escoamento total.

 

Tabela 3. Balanço hídrico do Estado de São Paulo por unidade hidrográfica

Código

Unidade

Hidrográfica

Área no
Estado(1)
(Km2)

Precipitação Média(2)

Escoamento
Total(3)
(m3/s)

Evapotranspiração(4)

Escoamento

Básico(5)

(m3/s)

Vazão Mínima(6)

Rendimento(7)
(%)

Básico/Total(8)
(%)

(mm/ano)

(m3/s)

(mm/ano)

(m3/s)

(7 dias, 10 anos)
(m3/s)

62

Mantiqueira

642

1.950

40

21

933

19

9

7

53

45

72

Sapucai/Grande

9.077

1.520

438

145

1.018

193

45

28

33

31

Rio Grande em Usina Porto Colômbia

9.719

1.548

478

166

1.012

312

54

35

35

33

71

Alto Pardo/Mogi

11.291

1.436

514

168

966

346

56

38

33

33

73

Baixo Pardo/Mogi

12.180

1.460

564

194

958

370

65

45

34

33

74

Pardo/Grande

7.030

1.370

305

83

996

222

29

20

27

35

Rio Grande em Usina Marimbondo

40.220

1.459

1.861

611

980

1.250

204

138

33

33

82

Turvo/Grande

15.975

1.250

633

122

1.009

511

43

26

19

35

Rio Grande confluência com Rio Paraná

56.195

1.400

2.494

733

988

1.761

247

164

29

34

81

São José dos Dourados

6.825

1.250

271

52

1.012

219

18

12

19

35

Rio Paraná a montante Rio Tietê

63.020

1.384

2.765

785

991

1.980

265

176

28

34

13

Alto Tietê

5.650

1.440

258

82

982

176

28

18

32

34

11

Piracicaba

11.020

1.405

491

141

1.002

350

52

34

29

37

12

Tietê/Sorocaba

14.850

1.270

598

135

983

463

45

29

23

33

23

Tietê/Jacaré

11.537

1.310

479

95

1.050

384

52

39

20

55

22

Tietê/Batalha

13.394

1.240

527

105

994

422

46

33

20

44

21

Baixo Tietê

15.347

1.210

589

111

982

478

39

26

19

35

Rio Paraná em Porto Independência

134.818

1.335

5.707

1.454

995

4.253

527

354

25

36

31

Aguapeí

13.204

1.220

511

97

989

414

42

28

19

44

Rio Paraná Mont. Rib. Boa Esperança

148.022

1.325

6.218

1.551

994

4.667

570

382

25

37

32

Peixe/Santo Anastácio

14.740

1.250

584

112

1.010

472

61

40

19

55

Rio Paraná em Ilhas dos Pacus

162.762

1.318

6.802

1.663

996

5.139

631

422

24

38

42

Alto Paranapanema

22.730

1.290

930

248

946

682

113

80

27

46

41

Baixo Paranapanema

26.254

1.280

1.066

243

989

823

140

96

23

58

Rio Paraná em Porto São José

211.746

1.310

8.798

2.154

990

6.644

884

598

24

41

61

Paraíba do Sul

14.396

1.410

644

215

940

429

95

71

33

44

51

Ribeira de Iguape/Litoral Sul

16.771

1.800

957

508

844

449

216

153

53

43

52

Baixada Santista

2.887

2.670

244

158

939

86

54

38

65

34

53

Litoral Norte

1.906

2.680

162

105

943

57

36

27

65

34

Vertente Marítima

21.564

1.994

1.363

771

866

592

306

218

57

40

Estado de São Paulo

247.706

1.375

10.805

3.140

976

7.665

1.285

888

29

41

(1) Área de drenagem da bacia hidrográfica no Estado de São Paulo.
(2) Precipitação média de longo período.
(3) Escoamento total estimado para os cursos de águas, em termos de vazão média de longo período.
(4) Evapotranspiração média de longo período calculada pela diferença entre a precipitação e a vazão.
(5) Escoamento básico que aflui aos corpos de águas após percolar pelos aqüíferos subterrâneos, estimado a partir da média das vazões mínimas anuais de sete dias consecutivos.
(6) Vazão mínima anual de sete dias consecutivos e dez anos de período de retorno, estimada estatisticamente a partir de amostras de dados observados.
(7) Relação entre a vazão e aprecipitação. Aponta a parte da chuva que é transformada em escoamento.
(8) Relação entre os escoamentos básico e total.


I.2.2. Águas Subterrâneas

Volta ao início do capítulo

Os recursos hídricos subterrâneos são extremamente importantes. Constituem a origem do escoamento básico dos rios e representam ricas reservas de água, geralmente de excelente qualidade que dispensam custosas estações de tratamento. Entretanto, nem todas as formações geológicas possuem características hidroquímicas e hidrodinâmicas que permitam a exploração econômica de águas subterrâneas através de poços tubulares profundos, para médias e grandes vazões. Em pelo menos dois terços do Estado o potencial explorável pode ser considerado muito bom. Mesmo nas áreas hidrogeologicamente menos favoráveis, o abastecimento de pequenas comunidades, indústrias e propriedades rurais é bastante interessante, quando as demandas são compatíveis com menores vazões.

A utilização dos recursos hídricos subterrâneos, crescente em todo o Estado, apresenta muitas vantagens em relação aos mananciais de superfície. A primeira delas é que na maior parte dos casos, especialmente nas cidades pequenas e médias, o abastecimento é facilmente atendido por poços ou outras obras de captação, cujos prazos de execução são mais curtos e de menor custo, o que dá maior flexibilidade de escalonamento dos investimentos. Além disso, os mananciais subterrâneos são naturalmente melhor protegidos dos agentes poluidores, de modo que a água captada quase sempre dispensa tratamento.

No entanto, a evolução que houve no setor de maquinaria e equipamentos de perfuração, não foi acompanhada pelo controle da exploração da água subterrânea. Ao contrário, esta é realizada de maneira totalmente desordenada e predatória e, ainda, não há conscientização pública para o problema. São, alem disso, fatores que agravam a situação: a falta de regulamentos que disciplinem a pesquisa e exploração de aqüíferos, o estágio incipiente de produção de normas e diretrizes técnicas de projetos e de construção de poços, a insuficiência de pessoal técnico habilitado, e a falta de aplicação do conhecimento hidrogeológico já existente.

Uma política conseqüente de aproveitamento das águas deve partir da premissa fundamental de que a água subterrânea é um recurso estratégico e sua exaustão e degradação podem acarretar conseqüências irreversíveis.

I.2.2.1. Sistemas aqüíferos

Os sistemas aqüíferos que ocorrem no Estado de São Paulo, representados na Figura 6 , podem ser classificados, por unidades hidro-estratigráficas em duas categorias, segundo a natureza litológica dos terrenos e suas propriedades hidráulicas: aqüíferos sedimentares, permeáveis por porosidade granular, e aqüíferos cristalinos, permeáveis por fissuramento das rochas.

Tabela 4. Disponibilidade hídrica superficial no Estado de São Paulo

Código

Unidade Hidrográfica

Área no

Estado(1)

(km2)

Escoamento

Vazão Mínima (m3/s)

Q95%(5)

Vazão de Referência

(m3/s)

Total(2)

(m3/s)

1 mês,

10 anos (3)

7 dias,

10 anos(4)

(m3/s)

Total(6)

No Estado(7)

6.2

Mantiqueira

642

21

8

7

9

8

8

7.2

Sapucaí/Grande

9.077

145

35

28

46

40

35

Rio Grande em Usina Porto Colombia

9.719

166

43

35

55

904

118

7.1

Alto Pardo/Mogi

11.291

168

48

39

57

120

70

7.3

Baixo Pardo/Mogi

12.180

194

56

45

67

176

126

7.4

Pardo/Grande

7.030

83

25

20

30

201

151

Rio Grande em Usina Marimbondo

40.220

611

172

139

209

1.288

438

8.2

Turvo/Grande

15.975

122

32

26

39

32

32

Rio Grande Confluência com Rio Paraná

56.195

733

204

165

248

1.402

477

8.1

São José dos Dourados

6.825

52

15

12

16

15

15

Rio Paraná a montante Rio Tiete

63.020

785

219

177

264

3.861

579

1.3

Alto Tietê

5.650

82

24

18

30

105

105

1.1

Piracicaba

11.020

141

43

34

54

50

50

1.2

Tietê/Sorocaba

14.850

135

38

28

49

222

222

2.3

Tietê/Jacare

11.537

95

46

39

49

286

286

2.2

Tietê/Batalha

13.394

105

40

33

43

382

382

2.1

Baixo Tietê

15.347

111

32

26

35

426

426

Rio Paraná em Porto Independência

134.818

1.454

442

355

524

4.440

1.021

3.1

Aguapeí

13.204

97

35

28

41

35

35

Rio Paraná mont. Rib. Boa Esperanca

148.022

1.551

477

383

565

4.599

1056

3.2

Peixe/Santo Anastácio

14.740

112

47

40

52

47

47

Rio Paraná em Ilha dos Pacus

162.762

1.663

524

423

617

4.860

1103

4.2

Alto Paranapanema

22.730

248

94

80

108

306

244

4.1

Baixo Paranapanema

26.254

243

113

96

128

1.106

500

Rio Paraná em Porto São Jose

211.746

2.154

731

599

853

5.966

1.603

6.1

Paraíba do Sul

14.396

215

84

71

93

140

140

5.1

Ribeira de Iguape/Litoral Sul

16.771

508

180

153

219

200

180

5.2

Baixada Santista

2.887

158

51

38

59

146

146

5.3

Litoral Norte

1.906

105

36

27

39

36

36

Vertente Marítima

21.564

771

267

218

317

382

362

Estado de São Paulo

247.706

3.140

1.082

888

1.263

6.488

2.105

Nota : As vazões regularizadas utilizadas para o cálculo das vazões de referência foram obtidas dos relatórios : Caracterização dos recursos hídricos no Estado de São Paulo (Abril/84-DAEE) e Plano Nacional de Recursos Hídricos (Janeiro/1985 - MME/DNAEE/DCRH).
(1) Área de drenagem da subzona ou bacia hidrográfica no Estado de São Paulo.
(2) Escoamento total estimado para os cursos de águas, em termos de vazão média de longo período.
(3) Vazão mínima anual de um mês e dez anos de período de retorno, estimada estatisticamente a partir de amostras de dados observados.
(4) Vazão mínima anual de sete dias consecutivos com dez anos de período de retorno.
(5) Vazão para 95% de permanência no tempo.
(6) Vazão de referência para as bacias estaduais e interestaduais, estimada a partir de dados de vazões regularizadas por reservatórios e contribuições mínimas de bacias não controladas.
(7) Vazão de referência considerando somente a parcela dentro do Estado de São Paulo.

I.2.2.2. Aqüíferos sedimentares

Os aqüíferos do cenozóico ocupam pequenas extensões do território paulista, distribuídos nas bacias sedimentares (São Paulo, Taubaté e planícies litorâneas) e alguns depósitos interiores, geralmente vales de rios, de menor expressão. Já os aqüíferos sedimentares do mesozóico e do paleozóico ocupam mais da metade da área do Estado e pertencem à bacia sedimentar do Paraná, constituindo seu flanco nordeste.

Todo o sistema aqüífero da bacia de São Paulo, ocupado inteiramente pela metrópole, é composto por arenitos argilosos, argilas e lentes de areia, com espessura média de 100 metros, podendo alcançar 230 metros. Apesar de sua pequena área - mil quilômetros quadrados -, é explotado por mais de 8 mil poços tubulares com produtividade média de 6 m 3 /h, que abastecem indústrias, hospitais, escolas, residências e condomínios, de forma suplementar.

O aqüífero da bacia de Taubaté é uma fossa tectônica na qual foram depositados argilitos, folhelhos e arenitos argilosos com intercalações delgadas de areias. No centro da bacia, a espessura máxima do pacote sedimentar é de 500 metros, mas o aqüífero é captado a profundidades que variam de 100 a 300 metros onde ocorrem as zonas mais permeáveis. O aqüífero é explotado atualmente por cerca de 1500 poços com vazões média de 15 m 3 /h, variando de 10 a 270 m 3 /h que abastecem principalmente cidades e indústrias.

O aqüífero litorâneo, por sua vez, está assentado sobre o embasamento cristalino e é explotado por não mais que 300 poços, com vazões de 2 a 20 m 3 /h, e média de 3 m 3 /h. É formado por sedimentos finos e areias inconsolidadas limonitizadas, dispostos em terraços com espessura média de 30 metros.

Os aqüíferos Bauru/Caiuá e Botucatu, pertencentes aos sistemas sedimentares da bacia do Paraná, ocupam mais da metade do território estadual e se destacam não somente pela grande área de ocorrência, como pelo potencial explorável de água subterrânea. O Bauru, constituído de arenitos finos e mal selecionados na base e de arenitos argilosos e calcíferos no topo, caracteriza-se como unidade hidrogeológica de extensão regional, contínua, livre a semiconfinada, com espessura média de 100 metros, mas que pode chegar aos 250 metros. Estima-se que venha sendo explotado por cerca de 10 mil poços tubulares, utilizados basicamente para o abastecimento público, propriedades rurais e setor industrial. É possível se destacar um zoneamento do potencial explorável por poços a partir da espessura do aqüífero e suas características litológicas:

- na área mais extensa, onde predomina a sedimentação intermediária e de topo, a vazão varia de 3 a 20 m 3 /h; e
- em áreas mais restritas onde predomina a sedimentação da base do Bauru, com espessura da ordem de 100 metros, a vazão atinge valores mais significativos, variando de 20 a 50 m 3 /h.

A vazão média geral dos poços é de 8 m 3 /h.

No extremo sudoeste do Estado ocorre o sistema aqüífero Caiuá, interdigitado com o Bauru. Formado por arenitos finos a médios, bem selecionados, possui boa permeabilidade e, portanto elevado potencial hídrico, com vazões de poços variando de 20 a 200 m 3 /h e com média de 30 m 3 /h, dependendo da espessura saturada que é, em média, de 80 metros.

Já o maior de todos os sistemas aqüíferos, o Botucatu, ocupa aproximadamente 60% do Estado e é a principal reserva de água subterrânea de São Paulo. Em toda a sua área aflorante e na região onde ocorre confinado pelos derrames de basalto (90 %), o sistema aqüífero Botucatu, constituído por arenitos eólicos bem selecionados, com espessura média de 300 metros, mergulha para noroeste sob os basaltos e atinge profundidades de até 1.500 metros. O confinamento do aqüífero caracteriza condição de artesianismo em 80% da área. Atualmente é explotado por cerca de 1.300 poços tubulares - a maioria localizada na área aflorante e na porção adjacente, onde as espessuras dos basaltos confinantes são menores. Mas existem, também, dezenas de poços com profundidades superiores a mil metros, cujas vazões podem superar os 700 m 3 /h.

Se o sistema aqüífero Botucatu é generoso, o mesmo não se pode dizer em relação ao sistema aqüífero Tubarão (formação Itararé), que ocorre numa região do Estado de importantes núcleos urbanos e industriais e apresenta escassez de recursos hídricos (bacia do Piracicaba). Esse aqüífero de extensão regional é descontínuo, com corpos mais arenosos intercalados em camadas de lamitos, ritmitos e siltitos. Embora possua uma espessura total da ordem de mil metros, é explotado por cerca de 5.000 poços com profundidades de até 350 metros, com vazões moderadas de 3 a 50 m 3 /h e um valor médio de 7 m 3 /h.

O aquitardo Passa-Dois, constituído de bancos de lamitos, folhelhos e calcários, interposto entre os aqüíferos Botucatu e Tubarão, exerce regionalmente um papel passivo quanto à circulação de águas subterrâneas. Nos poços que o atravessam há ocorrências de águas impróprias para o consumo, com teores excessivos de sulfato, fluoreto e carbonato. Ao longo das estruturas geológicas, o Passa-Dois pode, entretanto, comportar-se como aqüífero eventual, condicionado ao fissuramento das rochas sedimentares junto a fraturas e falhas. Cerca de 300 poços explotam esse aqüífero com vazão média de 3 m 3 /h.

O bloco-diagrama da Figura 6 mostra esquematicamente a posição espacial e o funcionamento hidráulico dos sistemas aqüíferos maiores. Note-se, em particular, a posição do aqüífero Botucatu, confinado em subsuperfície. As diferenças de carga hidráulica e a superfície piezométrica proporcionam fluxos da água ascendentes. Nestas condições, os poços que penetram o aqüífero são geralmente artesianos e, em alguns casos, jorrantes.

I.2.2.3. Aqüíferos cristalinos fraturados

Um terço do Estado, aproximadamente, é ocupado por rochas fraturadas (aqüíferos basalto/diabásio e cristalino). O sistema aqüífero basalto ocorre numa área de 32 mil quilômetros quadrados na porção centro-leste de São Paulo sendo recoberto, a oeste, pelos sedimentos Bauru-Caiuá. Apresenta-se na forma de derrames sucessivos de lavas, superpostos, onde os sistemas de fraturamento (zonas aqüíferas) estão relacionados tanto a esforços tectônicos, gerando fraturas subverticais, como a processos de resfriamentos que originam descontinuidades sub-horizontais. O diabásio, presente principalmente a nordeste e centro leste de Estado, ocorre na forma de intrusões de magma, geralmente básico, atravessando as diferentes seqüências sedimentares, em particular o grupo Tubarão.

As zonas aqüíferas do diabásio estão associadas a faixas de contato com a rocha encaixante. Os basaltos são explorados, hoje, por aproximadamente 2.000 poços tubulares e o diabásio por cerca de 500 poços; nos dois casos a maioria tem profundidades de 100 a 150 metros. Suas vazões são, porém, variáveis e os poços, situados junto a lineamentos estruturais ou fraturas apresentam vazões de 3 a 100 m 3 /h. A vazão média nos basaltos é de 10 m 3 /h e nos diabásios 4 m 3 /h.

No sistema aqüífero cristalino, as zonas aqüíferas estão associadas a fraturas e lineamentos. Formado por rochas do embasamento pré-cambriano -granitos, gnaisses, migmatitos, filitos e xistos-, é explotado por cerca de 6.500 poços, com profundidades variáveis de 50 a 150 metros e vazões que atingem de 2 a 40 m 3 /h e uma média de 5 m 3 /h (1) .

Na Tabela 5 estão resumidas as características gerais dos principais sistemas aqüífero do Estado

Tabela 5. Características gerais dos principais sistemas aqüíferos

(1) Os valores estatísticos referentes às vazões ( mínimas, máximas e médias ) mencionadas, foram obtidas através de poços selecionados do arquivo do DAEE, cujos dados são mais confiáveis.

Aqüíferos

Litologias

Área de
Afloramento
(km2)

Produtividade
Média/Baixa

Vazão(1)
(m3/h)

Profundidade
(m)

São Paulo

Arenitos argilosos

1.000

6 - 20

100 - 200

Taubaté

Argilitos e arenitos intercalados

2.200

Alta/Média

15 -200

100 - 250

Litorâneo

Silitos, argilas e arenitos

4.600

Baixa

3 - 20

10 - 60

Bauru

Arenitos calcíferos argilosos

104.000

Média

8 - 30

100 - 200

Caiuá

Arenitos

13.000

Alta/Média

30 - 100

50 - 100

Botucatu

Arenitos (aflorante)

Arenitos (confinado)

16.000

105.800

Muito alta

60 - 600

200 - 1.600

Tubarão

Lamitos, bancos de arenitos

21.001

Média

7 - 20

100 - 300

Basalto

Basaltos, diabásios

32.000

Média

10 -100

50 -150

Cristalino

Xistos, migmatitos, granitos

53.400

Média/baixa

5 - 20

100 - 150

(1) Vazão média predominante na área por poço