III.3. Diagnóstico da Bacia do Rio Piracicaba
III.3.1. Caracterização física e sócio-econômica
A Bacia do rio Piracicaba abrange uma área de 12.400 Km2 , sendo 11.020 km2 no Estado de São Paulo. Apresenta forma alongada no sentido leste-oeste, comprimento aproximado de 250 Km e largura média de 50 Km. É formada pelas sub-bacias dos rios Corumbataí com 1.700 Km2, Jaguari com 4.290 Km2 e Atibaia com 2.760 Km2. A bacia abrange parcial ou integralmente 50 municípios paulistas e 5 do Estado de Minas Gerais, dos quais 40 paulistas e 4 mineiros têm as respectivas sedes localizadas na bacia (ver Figura 63).
Em função das demandas crescentes de água para os usos urbano e industrial e na irrigação, os problemas de escassez e de qualidade dos recursos hídricos acentuam-se, cada vez mais, na bacia do Piracicaba. Daí considera-se como principal prioridade a execução de obras de preservação e proteção ambiental e de mananciais para suprimento à população, mediante o tratamento de esgotos urbanos. Não obstante, outros programas prioritários são também preconizados, como por exemplo:
- planejamento, projeto e construção de barragens de regularização, no contexto de aproveitamento múltiplo dos recursos hídricos;
- monitoramento hidrológico para obtenção de dados de qualidade das águas e de utilização de recursos hídricos, tendo em vista orientar a operação de reservatórios, estações de tratamento de água e de esgoto, captação de água com fins de irrigação, e desencadear ações de fiscalização e controle;
- racionalização do uso da água, para seu emprego mais eficiente nos sistemas urbanos, industriais e de irrigação, eliminando-se perdas e desperdícios;
- controle de poluição industrial visando manter e aprimorar os índices de tratamento de efluentes industriais já alcançados;
- controle das doenças de veiculação hídrica; uso recreacional dos reservatórios; zoneamento hidroagrícola e reflorestamento ciliar;
- assistência aos municípios e atendimento a reclamações sobre acidentes ambientais; aprimoramento da legislação ambiental.
Embora atendam aos objetivos previstos, esses programas devem ser aperfeiçoados por estudos prospectivos, de médio e longo prazos, do Plano de Recursos Hídricos da Bacia do Rio Piracicaba, com processos iterativos de avaliação e reorientação. Por outro lado, encontra-se em fase de estruturação o Sistema Descentralizado de Gerenciamento de Recursos Hídricos, tomando-se a bacia do rio Piracicaba como modelo básico, conforme estipula o Decreto Estadual nº 28.489, de 9/6/88. Com esses estudos estão sendo abordadas as questões institucionais, jurídicas, políticas e econômico-financeiras e definidos os mecanismos de cooperação e coordenação interinstitucional para a realização de programas regionais integrados, especialmente com fins de assegurar os recursos financeiros indispensáveis.
Este diagnóstico contém os dados que procuram fornecer embasamento aos programas propostos para a bacia do Piracicaba. Trata-se ainda de um documento preliminar de subsídios ao Plano de Bacias, elaborado com base em informações atualmente disponíveis, e que deverá ser complementado em etapas subsequentes dos trabalhos do GT-PI - Grupo Técnico da Bacia do Piracicaba, do Conselho Estadual de Recursos Hídricos - CRH.
III.3.1.1. Ocupação demográfica
III.3.1.2. Geologia e geomorfologia
III.3.1.9. Saúde
Na região de Campinas, apenas a cidade de Morungaba possui alto índice de coeficiente de mortalidade infantil, superior a 70 por 1.000 n.v. Por outro lado, as doenças de veiculação hídrica estão diretamente relacionadas à deficiência dos sistemas de abastecimento de água, destinação dos dejetos e disposição do lixo. São a cólera, a febre tifóide, a disenteria bacilar, enterites e outras diarréias e a esquistossomose. A estimativa dos óbitos gerais e causados por doenças de veiculação hídrica na região de Campinas em 1984 encontram-se na Tabela 32.
Tabela 32 - Óbitos gerais e por doenças de veiculação hídrica na região de Campinas (1984)
Coeficiente de mortalidade |
Por todas as causas |
Por Veiculação hídrica |
Geral/1.000 hab. |
6,34 |
1,18 |
Infantil/1.000 n.v. |
33,22 |
3,58 |
III.3.1.10. Sistema de esgotos sanitários
Tabela 33 - Características gerais do esgotamento sanitário na bacia do Piracicaba (1988)
Sub-bacia |
População (hab) |
Índice de |
Vazão média |
|
Urbana |
Atendida |
|||
Atibaia |
610.407 |
457.563 |
75 |
1,24 |
Corumbataí |
156.308 |
139.751 |
89 |
0,42 |
Jaguari |
228.155 |
169.717 |
74 |
0,46 |
Piracicaba(1) |
1.106.316 |
867.640 |
78 |
2,04 |
TOTAL |
2.101.186 |
1.634.671 |
78 |
4,16 |
Fonte: SABESP/CNEC - 1989(levantamento de 1988).
(1) = Inclui 13% dos esgotos de Campinas, drenados para o ribeirão Quilombo.
O tratamento de esgotos possui pouca expressão. A redução da carga poluidora doméstica atinge 3% na sub-bacia do Piracicaba e 10% na sub-bacia do rio Atibaia, enquanto nas outras o tratamento de esgotos praticamente inexiste. A maior parte das instalações é do tipo lagoa anaeróbia-facultativa, atendendo cidades de pequeno porte, com exceção de Valinhos e Limeira. Em Campinas o tratamento primário é feito através de tanques Imhoff.
III.3.1.11. Sistema de abastecimento de água
Tabela 34 - Características gerais do abastecimento de água na bacia do Piracicaba 1988).
|
População(hab) |
Índice de |
Vazões médias captadas (m3/s) |
Consumo |
|||
Urbana(1) |
Atendida |
Superficial |
Subterrânea |
Total |
|||
Atibaia |
580.678 |
537.258 |
93 |
4.046 |
0.062 |
4.108 |
273 |
Corumbataí |
156.308 |
148.630 |
95 |
0.912 |
0.036 |
0.948 |
278 |
Jaguari |
457.708 |
412.658 |
90 |
1.413 |
0.035 |
1.448 |
296 |
Piracicaba |
906.492 |
871.283 |
96 |
2.093 |
0.125 |
2.218 |
314 |
TOTAL OU MEDIA |
2.101.186 |
1.969.829 |
94 |
8.464 |
0.258 |
8.722 |
292 |
Fonte: SABESP/CNEC - 1989(levantamento de 1988).
(1) Relativas às sub-bacias onde são efetuadas as captações de água.
Nota: Os valores de população por sub-bacias diferem da Tabela 33 em razão de diferentes critérios de agrupamento dos municípios.
III.3.1.14. Estrutura fundiária
III.3.1.15. Atividades econômicas
III.3.2. A Problemática da Bacia
III.3.2.1. Cargas poluidoras e qualidade das águas
Os esgotos urbanos, juntamente com os efluentes industriais, constituem os principais focos de poluição orgânica da bacia do Piracicaba. A população urbana esgotada é da ordem de 1.680.000 habitantes totalizando 113 t/dia de DBO. Possuem tratamento de esgotos 9 pequenos municípios ou seja, são removidos apenas 4 % das cargas orgânicas totais produzidas na bacia.
Destacam-se na bacia do Piracicaba as indústrias de açúcar e álcool, química e petroquímicas, papel e celulose e alimentícias, como grandes fontes poluidoras. Nas indústrias sucro-alcooleiras, a remoção da carga poluidora é bastante significativa - cerca de 99 %, mas nas demais atividades industriais, a remoção é de apenas 69 %, em média.
A Tabela 35 resume os dados disponíveis sobre as cargas poluidoras de origem orgânica.
Tabela 35. Cargas orgânicas atuais potenciais e remanescentes na bacia do Piracicaba (t/dia de DBO)
Sub-bacia |
Doméstica(1) |
Industrial(2) |
Subtotal |
|||||||||||
Potencial |
Remanescente |
Potencial |
Remanescente |
Potencial |
Remanescente |
|||||||||
Atibaia |
33 |
30 |
50 |
13 |
83 |
43 |
||||||||
Jaguari |
12 |
12 |
137 |
9 |
149 |
21 |
||||||||
Piracicaba(3) |
68 |
66 |
1.252 |
55 |
1.320 |
121 |
||||||||
Total |
113 |
108 |
1.439 |
77 |
1.552 |
185 |
||||||||
Fonte: Sabesp/CNEC - 1989. |
||||||||||||||
Tabela 36. Demografia e demandas urbanas de água na bacia do Piracicaba
Sub-bacia |
População (1.000 hab.) |
Demandas (m3/s) |
|||||||||||
1990 |
2000 |
2010 |
1990 |
2000 |
2010 |
||||||||
Atibaia |
1.353 |
2.146 |
3.186 |
4,7(1) |
7,6(1) |
11,3(1) |
|||||||
Corumbataí |
154 |
202 |
257 |
0,4 |
0,6 |
0,7 |
|||||||
Jaguari |
274 |
386 |
519 |
0,7 |
1,0 |
1,4 |
|||||||
Piracicaba |
1.178 |
1.902 |
2.886 |
3,3 |
5,3 |
8,0 |
|||||||
Total |
2.959 |
4.636 |
6.848 |
9,1 |
14,5 |
21,4 |
|||||||
(1) Incluídos 1,0 , 1,7 e 2,5 m3/s para os anos 1990, 2000 e 2010 respectivamente, visando o abastecimento de Jundiaí, Campo Limpo e Várzea Paulista. |
III.3.2.3. Demandas industriais
Tabela 37. Demandas industriais de água na bacia do Piracicaba (m3/s)
Sub-bacia |
1990 |
2000 |
2010 |
Atibaia |
4,3 |
6,9 |
8,1 |
Corumbataí |
0,1 |
0,2 |
0,3 |
Jaguari |
1,5 |
1,6 |
1,7 |
Piracicaba |
14,5 |
18,4 |
20,3 |
Total |
20,4 |
27,1 |
30,4 |
III.3.2.4. Demandas de irrigação
Tabela 38. Demandas para irrigação na bacia do Piracicaba
Sub-bacia |
Área irrigadas (ha) |
Demandas (m3/s) |
||||
1990 |
2000 |
2010 |
1990 |
2000 |
2010 |
|
Atibaia |
3.698 |
6.025 |
9.810 |
0,96 |
1,57 |
2,55 |
Corumbataí |
898 |
1.608 |
2.880 |
0,23 |
0,42 |
0,75 |
Jaguari |
4.390 |
8.635 |
16.990 |
1,14 |
2,24 |
4,42 |
Piracicaba |
3.457 |
6.489 |
12.180 |
0,90 |
1,69 |
3,16 |
Total |
12.443 |
22.757 |
41.860 |
3,23 |
5,92 |
10,88 |
III.3.2.5. Demandas e consumos totais de água
As demandas totais de água são avaliadas em 63 m3/s (no ano 2010), conforme a Tabela 39 e a Figura 73.
Tabela 39. Demandas totais de água na bacia do Piracicaba (m3/s)
Sub-bacia |
Urbana |
Industrial |
Irrigação |
Total(1) |
|||||||||||||||||||
1990 |
2000 |
2010 |
1990 |
2000 |
2010 |
1990 |
2000 |
2010 |
1990 |
2000 |
2010 |
||||||||||||
Atibaia(1) |
4,6 |
7,6 |
11,3 |
4,3 |
6,9 |
8,1 |
0,2 |
0,4 |
0,7 |
9,2 |
14,9 |
20,1 |
|||||||||||
Corumbataí |
0,4 |
0,6 |
0,7 |
0,1 |
0,2 |
0,3 |
0,9 |
0,7 |
3,2 |
1,4 |
2,5 |
4,2 |
|||||||||||
Jaguari |
0,7 |
1,0 |
1,4 |
1,5 |
1,6 |
1,7 |
1,1 |
2,2 |
4,4 |
3,3 |
4,8 |
7,5 |
|||||||||||
Piracicaba |
3,3 |
5,3 |
8,0 |
14,5 |
18,4 |
20,3 |
1,0 |
1,6 |
2,6 |
18,8 |
25,3 |
30,9 |
|||||||||||
Total(1) |
9,1 |
14,5 |
21,4 |
20,4 |
27,2 |
30,3 |
3,2 |
5,9 |
10,9 |
32,7 |
47,5 |
62,7 |
|||||||||||
(1) Inclui reversão para abastecimento de Jundiaí, Campo Limpo e Várzea Paulista, situadas fora da bacia (para os anos 1990, 2000, 2010, valores de 1,0 1,7 e 2,5 m3/s, respectivamente. |
Parte da água requerida para os diversos usos não retorna ao rio constituindo-se em "perdas" da bacia, ou em "usos consuntivos" através de evaporação, evapotranspiração, infiltração, consumo em processos industriais e transferências para outras bacias. No uso urbano admite-se perda de 20%. Para as demandas industriais efetuaram-se correlações entre os despejos e o pessoal ocupado na indústria, de maneira análoga aos cálculos das demandas industriais. Para a irrigação considerou-se uso consuntivo de 100% (Tabela 40). O lançamento ao solo não foi considerado, uma vez que esta prática é adotada quase que exclusivamente pelas usinas de açúcar e álcool, no caso de restilo, não fazendo parte do "consumo" por tratar-se de um produto do processamento da cana-de-açúcar. Os resultados estão ilustrados na Tabela 40 e Figura 74.
Tabela 40. Uso cosuntivo da água na bacia do Piracicaba (m3/s)
Sub-bacia |
Urbano |
Industrial |
Irrigação |
Total(1) |
|||||||||||||||||||
1990 |
2000 |
2010 |
1990 |
2000 |
2010 |
1990 |
2000 |
2010 |
1990 |
2000 |
2010 |
||||||||||||
Atibaia(1) |
2,7 |
4,7 |
7,1 |
0,8 |
1,2 |
1,4 |
1,0 |
1,6 |
2,6 |
4,5 |
7,5 |
11,1 |
|||||||||||
Corumbataí |
0,1 |
0,1 |
0,1 |
0,1 |
0,1 |
0,1 |
0,2 |
0,4 |
0,7 |
0,4 |
0,6 |
0,9 |
|||||||||||
Jaguari |
0,1 |
0,2 |
0,3 |
0,2 |
0,3 |
0,3 |
1,1 |
2,2 |
4,4 |
1,4 |
2,7 |
5,0 |
|||||||||||
Piracicaba |
0,7 |
1,1 |
1,6 |
1,5 |
2,1 |
2,5 |
0,9 |
1,7 |
3,2 |
3,1 |
4,9 |
7,3 |
|||||||||||
Total(1) |
3,6 |
6,1 |
9,1 |
2,6 |
3,7 |
4,3 |
3,2 |
5,9 |
10,9 |
9,4 |
15,7 |
24,3 |
|||||||||||
(1) Inclui como perdas, as reversões para Jundiaí, Campo Limpo, Várzea Paulista e bacia do Capivari (esgoto de Campinas). |
III.3.3. Consórcio Intermunicipal
Existem diversos estudos sobre o problema dos recursos hídricos da bacia do Piracicaba. Desde 1966 todos concluem pela necessidade de tratamento dos esgotos urbanos das principais cidades da bacia.
Documentos internos do DAEE/SVT, em 1968, justificavam a elaboração de um plano de aproveitamento integral dos recursos hídricos da bacia do rio Piracicaba. A partir de então, de tempos em tempos, manifestações têm sido encaminhadas aos dirigentes do DAEE e demais autoridades. Os sucessivos estudos técnicos, conduzidos por equipes do DAEE ou por empresas consultoras, datando os últimos de 1984 e 1986, permitiram atualizar os dados e aplicar novas tecnologias de análise, mas a principal conclusão é invariável: "o não tratamento dos esgotos urbanos conduz à situação extremamente grave de poluição do rio Piracicaba e de seus formadores, colocando em risco o abastecimento de água da população e a saúde pública."
Embora a necessidade de tratamento de esgotos dos principais núcleos urbanos seja uma realidade constatada em todos os estudos realizados após 1967, na prática, a remoção de carga orgânica atinge apenas 4%. Mortandade de peixes, interrupção de sistemas de tratamento de água devido à poluição dos mananciais e queixas da população contra odores da água são constantes na época de estiagens severas. A prosseguir com esse ritmo, a bacia do Piracicaba atingirá, em breve, uma situação crítica quanto ao abastecimento de grandes cidades como Americana, Campinas, Sumaré, Piracicaba e Limeira.
Qualquer ação mais efetiva do Governo do Estado no tratamento dos esgotos urbanos das bacias dos rios Piracicaba e Capivari seria inviável sem a participação dos municípios que integram essas bacias. Quase todos possuem serviços de saneamento básico sob controle político-administrativo das prefeituras, os chamados serviços autônomos ou as empresas municipais. Não seriam convenientes entendimentos bilaterais entre os estados e cada um dos municípios, isoladamente, pois faltaria a compreensão de que o tratamento de esgotos urbanos, nas condições dessas bacias, é assunto de natureza regional.
Como exemplo, menciona-se o caso do município de Americana que está efetuando grande esforço para tratar seus esgotos domésticos e industriais. No entanto, sua repercussão no rio Piracicaba e no ribeirão Quilombo será muito reduzida se Campinas, Sumaré, e Nova Odessa continuarem sem tratamento de esgotos. A compreensão de que o tratamento de esgotos urbanos é uma questão a nível de bacia hidrográfica, esteve presente em sucessivas reuniões recentes(1988/1989) realizadas por prefeitos e técnicos dos municípios envolvidos e representa um ponto de partida essencial para se sair do plano das intenções para medidas concretas.
Essas reuniões culminaram com a decisão de criação do Consórcio Intermunicipal das Bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba e Capivari, tomada em Sumaré, pelos prefeitos de Americana, Amparo, Atibaia, Bragança Paulista, Campinas, Capivari, Cosmópolis, Jaguariúna, Paulínia, Piracicaba, Rio Claro e Sumaré, na presença de vice-prefeitos, vereadores e técnicos representando mais de 20 municípios. No momento são 12 municípios, mas, espera-se para o futuro, a adesão dos demais. As finalidades do consórcio, cujos estatutos foram aprovados na reunião de Sumaré e pelas Câmaras Municipais respectivas, são as seguintes.
I - representar o conjunto dos municípios que o integram, em assuntos de interesse comum, perante quaisquer outras entidades de direito público e privado, nacionais e internacionais;
II - planejar, adotar e executar projetos e medidas conjuntas destinadas a promover, melhorar e controlar as condições de saneamento e de uso das águas das bacias hidrográficas dos rios Piracicaba e Capivari, principalmente, no que diz respeito ao tratamento de esgotos urbanos;
III - desenvolver serviços e atividades de interesse dos municípios consorciados, de acordo com os programas de trabalho aprovados pelos Conselhos de Municípios.
Encontram-se em andamento, atualmente, providências para a assinatura de um convênio entre o DAEE e o Consórcio. Definiu-se também, a contribuição financeira dos municípios membros, em 1% do valor das respectivas receitas líquidas, das qual 0,85% destinam-se a investimentos e 0,15% a custeio. Para o ano 1990 esses percentuais representam Cr$ 50.000.000,00, a serem revistos, caso a inflação de 1990 supere 20%.
Caso prossiga com o ritmo de crescimento esperado, a bacia do Piracicaba poderá apresentar um futuro preocupante quanto a dois aspectos:
- desequilíbrio acentuado entre as demandas de água e as disponibilidades hídricas da bacia, gerando conflitos localizados entre os usuários;
- qualidade de água comprometedora para a saúde pública, caso os esgotos urbanos e industriais não tenham o devido tratamento.
III.3.4.1. Desequilíbrio quantitativo da água
Tabela 41. Balanço Hídrico global da bacia do Piracicaba (m3/s)
Ano |
Vazões Necessárias |
Disponibilidade Hídrica Mínima |
|||
|
|
Naturais |
|
||
Q7,10 |
Q95% |
||||
1990 |
33 |
9 |
|||
2000 |
48 |
16 |
40(2) |
62 |
25 a 40 |
2010 |
63 |
24 |
|||
(1) Médias diárias , observadas nas estiagens de 1985 e 1986, junto à cidade de Piracicaba. |
|||||
Constata-se que no ano 2010, 60% da vazão mínima natural (Q7,10) da bacia estará sendo perdida através do uso consuntivo, e que as demandas globais superam a vazão mínima em 1,6 vezes, revelando elevado índice de reúso da água, inclusive para abastecimento público.
As circunstâncias atuais, entretanto, são bastante preocupantes, pois, apesar de a Sabesp procurar manter 40 m3/s firmes na cidade de Piracicaba, nas estiagens a vazão do rio chega a atingir valores entre 25 a 40 m3/s devido à operação da usina hidrelétrica de Americana e aos usos consuntivos.
Percebe-se, portanto, que continuando com o ritmo atual de crescimento, a bacia do Piracicaba não terá condições de proporcionar água em quantidade suficiente para satisfazer às suas próprias demandas. A vazão mínima será suficiente apenas para atender os usos consuntivos globais da bacia e certamente haverá déficits crônicos de água localizados. Para suprir estas deficiências serão necessárias barragens à jusante do Sistema Cantareira proporcionando um ganho líquido de vazão regularizada de até 16 m3/s.
III.3.4.2. Perspectivas futuras de qualidade das águas
Tabela 42. Cargas poluidoras na bacia do Piracicaba (t/dia de DBO)
Ano |
Urbana |
Industrial |
Total |
||
Cargas potenciais produzidas |
|||||
1990 |
113 |
1.439 |
1.552 |
||
2000 |
200 |
1.960 |
2.160 |
||
2010 |
280 |
2.190 |
2.470 |
||
Cargas remanescentes(1) |
|||||
(A) |
(B) |
(C) |
(A+C) |
(B+C) |
|
1990 |
108 |
23 |
77 |
185 |
100 |
2000 |
191 |
40 |
98 |
289 |
138 |
2010 |
267 |
56 |
110 |
377 |
166 |
(1) Carga poluidora após tratamento de efluentes. |
Para três hipóteses de vazões mínimas a taxa de diluição média destas cargas poluidoras, em termos de mg/l de DBO, encontra-se na Tabela 43.
Tabela 43. Taxa de diluição média das cargas poluidoras orgânicas na bacia do Piracicaba
Hipóteses |
1990 |
2000 |
2010 |
Carga poluidora remanescente (t/dia de DBO) |
|||
Hipótese (A+C) |
185 |
289 |
377 |
Hipótese (B+C) |
100 |
138 |
166 |
Hipótese (A+C) Taxa de diluição em mg/l, para vazão de : |
|||
40 m3/s (Q7,10) |
54 |
84 |
109 |
62 m3/s (Q95%) |
35 |
54 |
70 |
25 m3/s (mínima observada) |
86 |
134 |
175 |
Hipótese (B+C) Taxa de diluição em mg/l, para vazão de : |
|||
40 m3/s (Q7,10) |
29 |
40 |
48 |
62 m3/s (Q95%) |
19 |
26 |
31 |
25 m3/s (mínima observada) |
46 |
64 |
77 |
Considerando-se as condições médias de comportamento hidráulico dos rios da bacia do Piracicaba, podem ser estabelecidas as seguintes faixas de variação para a taxa de diluição média das cargas poluidoras orgânicas:
Taxa de diluição média em (mg/l de DBO) |
Oxigênio dissolvido médio na bacia (mg/l) |
< 26 (desejável) |
3 |
26 a 42 (tolerável) |
0 a 3 |
42 (não desejável) |
zero |
Oxigênio Dissolvido maior que 3 mg/l é a condição para a sobrevivência da fauna aquática.
Esses dados permitem concluir que:
- sem o tratamento de esgotos urbanos (hipótese A+C), a qualidade da água será péssima, com a taxa de diluição sempre acima do valor máximo tolerável;
- com o tratamento de esgotos urbanos (hipótese B+C), mas, sem as barragens de regularização, a qualidade de água continuará sendo péssima, com taxa de diluição média acima do valor máximo tolerável;
- as barragens de regularização serão necessárias não somente para reposição dos usos consuntivos, mas também para assegurar maior disponibilidade hídrica tendo em vista a qualidade da água;
- mesmo com o tratamento dos esgotos urbanos (hipótese B+C), a qualidade da água deixa a desejar, sendo imprescindível prosseguir com a política de controle de poluição, de modo a elevar ainda mais os índices de remoção de cargas poluidoras das indústrias e desenvolver pesquisas no sentido de aumentar a eficiência do tratamento de esgotos urbanos; e
- deve-se desenvolver um conjunto de medidas preventivas, visando deslocar o crescimento urbano-industrial para outras regiões menos críticas e evitar que previsões de demanda de água e de cargas poluidoras se confirmem.
Em função dos cenários críticos que se vislumbram para um futuro próximo, o GTPI - Grupo Técnico da Bacia do Piracicaba do Conselho Estadual de Recursos Hídricos, propôs 12 programas prioritários, aprovados pela Deliberação CRH-6/88 de 10/08/88, que podem ser classificados em medidas estruturais e não-estruturais;
As medidas estruturais compreendem as ações de natureza corretiva, que resultam na execução de obras civis, instalações de grande porte, equipamentos, etc., envolvendo vultosos investimentos. São:
- Tratamento de Efluentes Urbanos
- Barragens de Regularização
As medidas não-estruturais compreendem todas as ações de natureza preventiva como controle, fiscalização, restrições de uso do solo, manejo da água, taxação, penalidades, legislação, mecanismos de alerta, zoneamento, monitoramento, etc. Os custos destas medidas são reduzidos mas requerem cooperação interinstitucional, o que dificulta sua implementação. São:
-Monitoramento Hidrológico
-Controle de Poluição
-Controle de Doenças de Veiculação Hídrica
-Legislação Ambiental
-Reflorestamento Ciliar
-Zoneamento Hidroagrícola
-Assistência aos Municípios
-Atendimento a Registros de Reclamações
-Uso Recreacional dos Recursos Hídricos
-Racionalização do Uso da Água.
Posteriormente o GTPI foi reestruturado e, nesta ocasião, dois outros foram propostos:
- Elaboração do Plano de Recursos Hídricos da Bacia do Piracicaba; e
- Criação do Sistema Descentralizado de Gestão de Recursos Hídricos na Bacia do Piracicaba.
A Figura 76, apresenta a interrelação entre os programas prioritários e as entidades envolvidas, e a Tabela 44 apresenta o custo e a duração de cada um desses programas.
Tabela 44. Custo e duração dos Programas Prioritários da bacia do Piracicaba
Programa |
Custo (US$1.000) |
Duração (anos) |
Medidas estruturais |
||
Tratamento de esgotos (obras) |
283.000 |
10 |
Barragens (obras) |
132.000(1) |
10 |
Medidas não estruturais |
||
Monitoramento hidrológico |
5.000 |
3 |
Controle de poluição |
(2) |
3 |
Doenças de veiculação hídrica |
2.200 |
2 |
Legislação ambiental |
1.000 |
2 |
Reflorestamento ciliar |
1.500 |
- |
Zoneamento hidroagrícola |
(3) |
- |
Assistência aos municípios |
(2) |
(4) |
Atendimento a reclamações |
(2) |
(4) |
Uso recreacional |
(5) |
- |
Racionalização do uso da água |
1.500 |
2 |
Plano da Bacia |
5.300 |
2 |
Sistema Descentralizado |
1.000 |
1 |
(1) Estimativa sujeita a revisão em função de estudos subsequentes. |
Por fim, deve-se ressaltar que a análise desses programas prioritários, no âmbito do CRH, resultou na inclusão de mais um item denominado "Transporte Hidroviário", estando o mesmo em fase de detalhamento por parte do órgão coordenador - DH-Departamento Hidroviário. Os resultados deverão constar do Plano de Bacia.
A seguir, apresentam-se algumas considerações julgadas importantes para a etapa subsequente dos estudos.
III.3.6.1. Com relação às projeções demográficas
III.3.6.2. Com relação aos programas prioritários propostos
III.3.6.3. Com relação ao plano da bacia do Piracicaba
Pelo menos dois cenários futuros devem ser sugeridos no âmbito dos estudos a serem realizados para o Plano da bacia do Piracicaba:
- Cenário espontâneo, que traduz o ritmo de crescimento natural como vem ocorrendo até hoje, com órgãos públicos sem muitas condições de interferir no processo de desenvolvimento econômico regional e local: Planos e projetos, bem intencionados, mas sem estrutura adequada para sua implantação; taxas de crescimento baseadas em projeções das tendências históricas, de ritmos decrescentes, na pressuposição de proximidade das condições de saturação.
- Cenário Controlado, que traduz o ritmo limitado de crescimento, considerando a possibilidade de interferências no processo do cenário espontâneo, com alteração de projeção de demandas de água e de cargas poluidoras através de medidas de restrição ou de orientação da localização espacial das atividades econômicas. O objetivo é reverter a tendência natural e por meio de medidas de caráter corretivo e/ou preventivo, alterar os prognósticos. Fazem parte deste cenário a criação de dispositivos que proíbam a instalação de grandes indústrias consumidoras ou poluidoras de água; o incentivo à reciclagem da água nas indústrias; o disciplinamento e a racionalização da irrigação; racionalização e controle de perdas no abastecimento urbano de água; controle de cargas poluidoras difusas urbanas, rurais, e de cargas tóxicas; tratamento de efluentes urbanos; fiscalização severa das indústrias, etc. As taxas de crescimento demográfico, as demandas de água e as cargas poluidoras deverão, portanto, resultar da consideração das ações descritas, buscando-se um equilíbrio com as disponibilidades de água na bacia hidrográfica.
Estes cenários devem ser debatidos com a comunidade, devidamente informada dos prognósticos, das vantagens, desvantagens, compensações financeiras, custos e benefícios envolvidos, das restrições necessárias e suas conseqüências para o meio ambiente e a saúde pública, etc.
Deve-se prever, também, a criação de instrumento de participação da sociedade oferecendo-se oportunidade para que ela explicite suas preferências e proponha um rumo preciso à bacia hidrográfica, mediante negociação. Periodicamente os prognósticos devem ser atualizados, incorporando-se novas situações que forem sendo identificadas.