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Mestranda da Unicamp vence prêmio da ONU sobre cuidados com o clima
15/07/2021 - Categoria: Informes
O cerrado é o segundo maior bioma da América do Sul, ocupando cerca de 2,03 milhões de quilômetros quadrados, o equivalente a 24% do território brasileiro. O cuidado com essas áreas é fundamental não apenas para a preservação da biodiversidade, mas também para a manutenção do regime de chuvas, produtividade agrícola e sustento de comunidades tradicionais. Para fazer esse monitoramento, pesquisadores e instituições lançam mão de diversos recursos tecnológicos, tais como o uso de imagens espaciais captadas por satélites.
Foi com este tema que Karina Berbert Bruno, geógrafa e mestranda em Demografia pela Unicamp, se tornou uma das três vencedoras do concurso internacional Space4Youth, prêmio organizado pelo Escritório das Nações Unidas para Assuntos do Espaço Sideral (UNOOSA) em parceria com a Space Generation Advisory Council (SGAC), organização de apoio à UNOOSA junto a estudantes e jovens profissionais. O concurso tem o objetivo de dar visibilidade a projetos e estudos de jovens que auxiliem na realização dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU por meio da exploração espacial. Neste ano, o concurso teve 430 participantes de 80 países.
“Fiquei realmente muito feliz e honrada de o meu trabalho ter sido selecionado. Significa reforçar que a ciência e pesquisa brasileira continuam firmes em defesa do meio ambiente e das questões climáticas, que mulheres pesquisadoras estão presentes e afirmarão seu desempenho na ciência, bem como em áreas sociais e políticas, e significa também uma oportunidade de aprendizado e conexões com comunidades científicas diversas”, comemora Karina. Além dela, foram premiadas as jovens Mahlak Abdullah (Estados Unidos) e Tejasvi Shivakumar (Índia).
Olhando o cerrado de cima
Karina venceu o concurso com o ensaio “Space as a tool for mitigation of climate change: multiscale results with Earth Observation technologies in Cerrado biome” (O Espaço como ferramenta para mitigação das mudanças climáticas: resultados multiescala com tecnologias de observação da Terra no Cerrado). No texto, ela apresenta as realizações do projeto TerraClass, do qual ela faz parte. Ele foi implementado em 2010 pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e oferece subsídios para a elaboração de políticas públicas e estratégias de preservação e de incentivo à produção agrícola sustentável em áreas de cerrado. O TerraClass é mantido com recursos do Banco Mundial e da Agência de Cooperação Internacional Alemã (GIZ). Acesse aqui o ensaio completo.
Com base em imagens feitas pelos satélites MODIS e LANDSAT, aliado a recursos de inteligência artificial e aprendizado de máquina, o TerraClass classifica as áreas de predomínio do cerrado em 15 categorias, desde regiões em que a vegetação natural primária foi preservada, passando por áreas de cultivo agrícola e de outras atividades econômicas, até locais em que houve desflorestamento. Os dados de monitoramento feitos até 2018 estão disponíveis para o público. Atualmente, está sendo realizado o mapeamento das áreas referentes a 2020 e o projeto é que o monitoramento seja estendido até 2022.
“O que acontece no Cerrado e na Amazônia, o desmatamento, uso e ocupação das terras, dinâmica de produção e expansão agrícola, pode ser monitorado por tecnologias espaciais e esses dados podem e deveriam ser utilizados por tomadores de decisão. A partir do momento em que você entende o que acontece nesses biomas, você pode direcionar políticas de conservação e recuperação de áreas degradadas, uso sustentável dos recursos, suporte a comunidades produtoras e comunidades tradicionais e manter constante o monitoramento do desmatamento”, explica Karina, que pretende estudar a dinâmica demográfica e espacial no cerrado em áreas de expansão agrícola no mestrado em Demografia. Para isso, ela propõe utilizar dados demográficos, como os obtidos pelos Censos, e as informações espaciais disponíveis pelo TerraClass.
Segundo a mestranda, a pesquisa contribui para o fortalecimento dos estudos que envolvem a dinâmica populacional e o meio ambiente, levando em conta fatores ambientais e sociais para a proposição de soluções sustentáveis para o uso dos recursos naturais e mitigação das mudanças climáticas.
“A partir desses dados eu consigo analisar a dinâmica de uso da terra no decorrer das três décadas de análise, de 1991 a 2021, a expansão ou retração de áreas de cultivo agrícolas, pastagens, vegetação natural, mineração, áreas urbanas e assim por diante, fazendo as correlações com os dados sociais e demográficos nas áreas e períodos analisados”, detalha.
“São oportunidades únicas de enriquecer meus conhecimentos”
Karina conta que conheceu o concurso Space4Youth e o trabalho do UNOOSA ao pesquisar eventos que discutem sua área de atuação, relacionando dados espaciais e questões climáticas. Para ela, a grande vantagem de participar e de ter seu ensaio premiado é dar visibilidade à ciência produzida no país e também chamar a atenção de outros países para o que ocorre nos biomas brasileiros.
“Foi uma oportunidade para dar destaque para um trabalho científico sério que vem sendo feito no Brasil, que envolve dois biomas fundamentais para a manutenção do equilíbrio dos ecossistemas no mundo, a Amazônia e o Cerrado, e que tem relação direta com os efeitos das mudanças climáticas”, comenta.
O Space4Youth faz parte de uma série de ações e eventos preparatórios organizados pela ONU para a 26 Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP-26), que vai ocorrer em novembro na cidade de Glasgow, na Escócia. Entre esses eventos, está o programa All4Climate 2021, que será realizado no fim de setembro, na Itália, com o objetivo de discutir e articular propostas de jovens pesquisadores sobre o tema. Karina pretende acompanhar as discussões de forma on-line e se manter atualizada sobre as oportunidades na área. Além do reconhecimento de seus esforços, ela também vai receber orientações de especialistas ligados às Nações Unidas e de instituições estrangeiras para dar continuidade a suas pesquisas.
“São oportunidades únicas de enriquecer meus conhecimentos acadêmicos e profissionais, desenvolvendo minha carreira científica de uma forma única”, celebra a jovem pesquisadora.
Fonte: UNICAMP
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